Paulo Luna

A palavra é traiçoeira, engana o insano e o são. Similar faca a palavra rufa.

Textos

Mestre Michel, semeador de baterias
A música popular no Brasil tem muitas histórias. Umas mais outras menos conhecidas. No século XIX o maestro baiano Tranquilino Bastos criou tantas orquestras que ficou conhecido como o “Semeador de orquestras”.  
Nas cidades em constante transformação os espaços e as práticas sociais se modificam, assim como os cantos e as danças.
O carnaval carioca sempre esteve em mutação. Como está agora. Os espaços da cidade diminuíram seja por obras, seja por super ocupação de humanos e máquinas. Se a configuração sócio espacial da cidade muda, muda também o seu canto.
No centro da cidade os espaços para o desfiles de blocos carnavalescos vai diminuindo e vão surgindo os blocos parados. Que batucam, dançam e cantam, mas não desfilam. No centro, muitas empresas particulares e públicas empregam uma ativa classe média jovem disposta ao divertimento constante. Nada melhor para isso do que criar um bloco carnavalesco. Especialmente parado. Que facilita as locomoções, acomodações e coisas tais.
Vamos ao samba então. Mas cadê batuque em cabeças pensantes e com abundante pensamento europeu na cachola abarrotada de conceitos? Então chama-se um “mestre”. Sim chama-se um mestre em bateria, em samba, em ritmo, em sonhos corporal e musical. Que brinca e reza enquanto batuca. Feliz da vida?
Sim. Os empregados de classe média são em sua maioria esmagadora brancos e escolarizados. Têm o samba e o batuque na cabeça, mas não na alma. Aí é que entra a presença de mestre Michel, o “netinho da vovó”, como também é conhecido Michel Feliciano, cria da Beija Flor, que já estudou e lecionou na Escola Villa-Lobos, que tocou com os Flautistas da Pró Arte e ensina percussão aos austríacos em plena Viena.
Fora outras atuações, atualmente, pelo menos dois blocos que desfilam parados são regidos pelo Mestre. Que, sem se alterar tenta levar aquele bando de braços duros ao delírio do samba. Eles tentam e o Mestre sua. Bate como exemplo nos bumbos, caixas s surdos. Todos se extasiam. Sua alma é uma dança e um delírio.  E o samba acontece.
As baterias ainda estão em formação, mas o Regula Mas Libera e o Estado Terminal já conseguem troar no cinza da cidade de cimento o doce evocar do samba.
Evoé Mestre Michel. Que surjam muitas e muitas baterias para você reger e comandar antes e durante o carnaval. Traga-nos, a nós dessa cidade tão cruel, o doce delírio do teu sonho sonoro que faz nossos corpos se mexerem como se fossem pássaros.
Paulo Luna
Enviado por Paulo Luna em 19/02/2016


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